segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Jânio Quadros

Há exatos 28 anos, Jânio morria depois de meses em estado vegetativo. Mas antes, revelou ao neto a resposta de um dos maiores enigmas de nossa história.
Em 1961, o Brasil se chocou com a bizarra renúncia do presidente Jânio Quadros, em meio a uma crise política e um quadro de completa confusão.
Com artimanhas militares de derrubada do Congresso, Jango na China e o Brasil numa encruzilhada diplomática, se aproximando do bloco socialista e criando atritos com o aliado, os EUA, as esperanças eram mínimas. Por muito tempo, as razões da renúncia de Jânio eram desconhecidas, gerando grande debate. Mas apenas em 1992, esse mistério foi resolvido.
Depois que a esposa Eloá morreu vítima de um câncer, a saúde de Jânio Quadros estava debilitada. Já idoso, o ex-presidente sofria com diversos problemas e estava fraco, chegando a ser internado num hospital em São Paulo (Albert Einstein). No seu leito de morte, sabendo que seu tempo era pouco, ele decidiu abrir o jogo e explicar a estranha renúncia. Meses depois, em estado vegetativo, ele morreu.
Jânio explicou as razões do ato em 25 de agosto de 1991 (exatamente 30 anos depois da renúncia), para a única testemunha do leito em que estava: seu neto, Jânio Quadros Neto, que em 1999 revelou o fato em uma entrevista exclusiva ao programa Fantástico, durante uma conversa com Geneton Moraes Neto. “Eu sempre tive medo de conversar com ele sobre esse assunto”, ele relatou, pois o avô tinha o tema como tabu.
Para Jânio, a renúncia era uma marca vergonhosa do passado e, por isso, foi segredo até sua morte. Seu neto relatou: “Uma vez eu estava num almoço na casa do dr. Felipe Nassin no Guarujá e uma convidada perguntou pra ele ‘presidente, por que que o senhor renunciou?’. Ele ficou muito nervoso e falou ‘renunciei porque a comida no Palácio da Alvorada era uma droga como é aqui! E a companhia era quase tão ruim quanto a companhia daqui'. Ele se levantou e foi embora super nervoso”.
Acontece que, como alguns especulavam, a renúncia de Jânio Quadros foi, na verdade, uma tentativa de golpe para que ele assumisse com maiores poderes. Nunca falando nessas palavras, a versão do ex-presidente ao neto, dita quando estavam sozinhos no quarto do hospital, foi polida e ficou eternizada, pois o rapaz transcreveu todo o testemunho. Seguem as exatas palavras de Jânio sobre o caso, algumas das últimas que pronunciou:
“A minha renúncia era pra ter sido uma articulação. Eu nunca imaginei que ela seria de fato aceita. Tudo foi muito bem planejado, organizado, por exemplo, eu mandei o vice-presidente João Goulart em uma visita oficial à China, o lugar mais longe possível. Assim ele não estaria no Brasil para assumir no meu lugar ou fazer articulações políticas. Eu acreditava que não haveria ninguém para assumir a presidência. Eu pensei que os militares, os governadores e principalmente o povo nunca aceitariam a minha renúncia. Pensei que iriam exigir que eu ficasse no poder, porque Jango era inaceitável para a elite”.
“Achei também que era impossível que ele assumisse porque todos iriam implorar para que eu ficasse. E eu renunciei no Dia do Soldado, porque queria sensibilizar os militares, conseguir o apoio deles. Imaginei que em primeiro lugar o povo iria às ruas seguido pelos militares. Os dois me chamariam de volta. Achei que voltaria para Brasília com glória. Ao renunciar eu pedi um voto de segurança a minha permanência no poder, porque esse é feito frequentemente pelos primeiros ministros lá na Inglaterra. Eu fui reprovado. E o país pagou um prelo muito alto. Deu tudo errado. A renúncia foi uma estratégia política que não deu certo e também foi o maior fracasso político da história republicana do país, o maior erro que cometi”.

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