Estudo do Nber sobre a efetividade do lockdown usando metodo de diferenças em diferenças.
AS MEDIDAS DE LOCKDOWN SÃO CAPAZES DE REDUZIR A CONTAMINAÇÃO E AS MORTES POR COVID-19? A PRIMEIRA EVIDÊNCIA
Eu desde o início fui cético a política de lockdown por não existirem até então evidências empíricas sólidas de que esta funcionaria como esperavam seus proponentes. Inclusive fiz uma revisão da literatura que parecia embasar estas medidas e a minha principal conclusão foi de que se tratava de evidências muito fracas e com uma validade externa quase nula, ou seja, utilizavam ou dados e métodos que não permitiam inferir a respeito de causalidade ou que não permitiam extrapolar seus resultados para outros lugares e outros períodos do tempo. Mas, isto era esperado e vários amigos argumentaram, com razão, de que se trata de um vírus novo, que tem características próprias e que eu estava de certa forma, exigindo demais. Inclusive vi algumas pessoas utilizando o argumento de que ao mesmo tempo também não existem evidências de que não funcionem.
Entretanto, acreditem, eu não sou a única pessoa do mundo que tinha este tipo de visão cética. A falta de evidências é muito clara para toda comunidade científica. Pois, o que se observa são apenas modelos que fazem previsões através de simulações que dizem, se você não fizer isso, irão morrer um número grande de pessoas. Quem seria louco de deixar de fazer o que é sugerido pelos modelos “científicos”. Mas, é claro que estes modelos são muito frágeis e erram muito. Em parte, porque são utilizados para fazer algo que não são a sua finalidade: fazer previsões.
Neste contexto, é natural que vários estudos sejam feitos neste momento tentando obter as respostas baseadas em métodos científicos mais sólidos que os estudos anteriores para responder a pergunta que todos nós queremos saber a resposta: As medidas de lockdown são capazes de reduzir a contaminação e as mortes por Covid-19?
Bom, temos um primeiro estudo, utilizando informações de estados e condados americanos, que busca responder a esta e outras perguntas. O estudo, que vale muito a leitura, utiliza um modelo de diferença nas diferenças, portanto, tem grupos de controle e tratados bem definidos e pode sim, ser utilizado para inferir a respeito de causalidade. Indo direto ao que interessa, a resposta obtida no estudo é NÃO.
LOGO, SEGUIMOS SEM EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS DE QUE ESTAS MEDIDAS SEJAM CAPAZES NEM DE REDUZIR O NÚMERO DE INFECTADOS E MORTES POR COVID-19.
Quem ler o artigo vai perceber que os autores fazem várias ressalvas aos resultados que encontraram, muitas delas realmente são necessárias, mas, sinceramente eu nunca vi um artigo assumir de forma tão direta que não devemos levar a sério os seus resultados. Apesar das suas limitações, como por exemplo, indicar que o número de infectados e mortos da amostra depende do volume de testes, eu não vejo este tipo de ressalva nos estudos que chegam em conclusões em contrário ou que utilizam estes mesmos números para dizer que morrerão um número enorme de pessoas.
Para mim, isso indica um medo dos autores em ir contra o senso comum e de sofrer algum tipo de consequência disso. Tomara que a minha impressão esteja errada, pois, é lamentável que exista este tipo de pressão também na academia.
Para vocês terem uma noção do que eu estou dizendo, eles até pintaram as ressalvas em amarelo. Isto pode ser observado nas figuras abaixo, que mostram os principais resultados do artigo. Eu nunca vi isso, alguém já viu?
Nas figuras vocês podem observar também que apesar de ter limitações, algo que todos estudos empíricos possuem, os resultados do estudo mostram que as medidas de lockdown, tais como o fechamento de escolas e as políticas do tipo “fica em casa” não apresentaram impactos significativos ou negativos sobre os novos casos registrados e as mortes nos EUA, mesmo quando se considera um tempo necessário para que as medidas tenham efeito (o tempo para que a doença apresente sintomas, algo entre 10 e 14 dias). Isto pode ser um efeito do aumento da testagem, uma variável omitida no modelo, mas, mesmo assim, apesar de suas limitações, se trata de um estudo muito melhor do que estudos que utilizam correlação ou dados de pandemias que ocorreram há mais de 100 anos atrás.
Considerando o que temos até agora, sigo no aguardo de novas evidências para mudar a minha opinião de que embarcamos em um tipo de política sem ter a menor noção de seus benefícios e de seus custos. Se trata de uma aposta em uma política, cuja análise real de custo-benefício ainda vamos demorar um tempo para poder calcular. A primeira evidência não é muito promissora. Mas, é só o começo e tenho a certeza de que no fim disso tudo o conhecimento que irá prevalecer é o científico e não conhecimento dos influenciadores digitais ou dos que tem algum interesse político em jogo nesta pandemia.
Link para o artigo: https://www.nber.org/papers/w27027.pdf
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