Max Hastings: "Guerras são necessárias"
O historiador britânico, especialista em conflitos armados, diz que a Primeira Guerra Mundial foi tão necessária para livrar o mundo de uma tirania quanto a Segunda
RODRIGO TURRER
O historiador e jornalista britânico Max Hastings – desde 2002, com o título de Sir – é um dos mais consagrados especialistas nas duas Guerras Mundiais. Autor de uma dezena de livros sobre os conflitos, ele acaba de lançar no Brasil Catástrofe – 1914 a Europa vai à guerra (Intrínseca, 704 páginas, R$ 49,90), obra em que reconstrói a paulatina deterioração das relações entre os países europeus meses antes da Primeira Guerra, iniciada há 100 anos. Nesta entrevista a ÉPOCA, Hastings, de 68 anos, afirma que a visão de uma Europa idílica em 1914, às vésperas do conflito, é equivocada. Diz ainda ser “difícil para as pessoas aceitarem que existam guerras necessárias”.
ÉPOCA – Há uma imagem de uma Europa idílica no período que antecedeu à Primeira Guerra Mundial. Isso é verdade?
Max Hastings – De forma alguma. Esse é um dos mitos que tento derrubar em meu livro. A única coisa idílica sobre o verão europeu de 1914 era o clima. Hoje acreditamos que passamos por uma era de mudanças extraordinárias, mas as mudanças no começo do século XX eram maiores e mais radicais – sociais e culturais. A Europa efervescia. Muitos países estavam à beira da revolução, com a classe trabalhadora cada vez mais desencantada e greves gigantescas eclodindo por Reino Unido, França, Rússia. Havia também os extraordinários avanços científicos, industriais e tecnológicos: o homem começava a voar, havia o telefone, o cinema, a Teoria da Relatividade de Einstein, o primeiro material sintético encontrado. Não é surpresa que os estadistas de 1914, homens nascidos e crescidos na época das carruagens e dos cavalos do século XIX, tivessem tanta dificuldade para entender o que se passava no século XX, na era da eletricidade. Era um período que eles ainda não compreendiam direito.
ÉPOCA – Essa incompreensão levou o mundo à guerra?
Hastings – Ajudou a levar. Em 1914, duques ainda mantinham serviçais obrigados a usar fraques e perucas. Jantares de 12 pratos eram servidos com naturalidade. Duelar por questões morais era corriqueiro. Os líderes do século XIX não compreendiam as mudanças sociais radicais do começo do século XX. Há muitas teorias sobre o que levou o mundo à guerra. A mais estapafúrdia é a ideia de que a Primeira Guerra Mundial foi acidental e era evitável, só aconteceu porque os líderes mundiais corriam irracionalmente em busca de seus interesses nacionais. Não foi o nacionalismo exacerbado que causou a Primeira Guerra.
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