domingo, 9 de outubro de 2016

Universidade livre

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Universidade Livre reuniu-se ontem com o reitor da UFABC Klaus Capelle para discutir algumas propostas para a universidade. Segue abaixo a íntegra da carta de intenções que entregamos ao reitor:
Santo André, 06 de outubro de 2016
Ao Magnífico Reitor da Universidade Federal do ABC
Prof. Dr. Klaus Werner Capelle
Como já ressaltamos recentemente em mensagem pública à nossa comunidade acadêmica, a formação intelectual em um ambiente universitário exige a coexistência e a contraposição de linhas de pensamento antagônicas. E foi com esse espírito que decidimos criar o Universidade Livre, com a proposta de trazer para a arena acadêmica de nossa universidade palestrantes que incentivem a superação de possíveis hiatos entre a academia, que por vezes pode tornar-se hermética, e uma geração emergente de pensadores e ativistas, sejam do meio acadêmico ou da sociedade civil.
Contudo, o Universidade Livre tem propostas, anseios e preocupações que vão além da realização de palestras com o intuito de abrir nossas janelas às suaves brisas oriundas da diversidade de pensamento, que caracterizam sociedades tão complexas como a nossa.
Em nossa percepção, houve uma deterioração crescente de convívio institucional no ambiente de nossa universidade em um nível que não percebemos existir em muitas outras instituições, muito provavelmente acentuada pelo clima de polarização política que se observa no país, sobretudo após o impeachment da então presidente Dilma Rousseff.
Observamos, no seio de nossa universidade, o crescimento da formação de pensamentos e discursos radicais que instilam antes o sectarismo, em detrimento da coexistência, gritos de confronto que suplantam o diálogo discordante, cartazes agressivos e difamatórios em vez de pontos de vista articulados, fundamentados na razão e na temperança. Justamente onde deveria florescer um debate plural e judicioso, observa-se a incrustação de um partidarismo belicoso.
Como bem sabemos, uma universidade deve ser um polo irradiador de conhecimentos, cultura, inteligência, criatividade, inventos, reflexões, humanidade. Deve inspirar e multiplicar em cada indivíduo o que de melhor existe dentro de si. Qual o sentido da existência de uma universidade quando assistimos, inertes, a tudo isso acontecendo dentro de nosso círculo, perante os olhos da sociedade?
As lamentáveis crises econômicas e orçamentárias vêm, assim como também se vão. Evidente que cabe às universidades um papel de responsabilidade no controle desses ciclos, formando profissionais qualificados, pensadores críticos e apontando rumos, visando uma crescente prosperidade de nossa sociedade. No entanto, ainda mais preocupante do que a pobreza orçamentária que vivenciamos momentaneamente é o risco de aridez intelectual sedimentada por convicções luminosas, que podem ter consequências muito mais danosas e longevas, até mesmo aprofundando nossas crises econômicas, ao invés de nortear a busca por soluções.
Devemos ter, também, especial cuidado com a observância constante dos princípios éticos e deontológicos que devem nortear a investidura de nossos representantes acadêmicos nos mais variados níveis da administração universitária. Do ponto de vista institucional, a liberdade de expressão também encontra limites, expressos e implícitos, não sendo, pois, como qualquer direito, um valor absoluto: é também sujeita aos demais direitos, que devem ser harmônicos entre si e em relação ao nosso sistema jurídico. Esses princípios naturalmente se interligam à condução de nosso patrimônio. Não podemos sucumbir ao patrimonialismo ideológico que ainda vicia o Estado brasileiro, caracterizável inclusive como improbidade administrativa nos termos dos artigos 10, caput, inciso II, e 11, caput, inciso I, da Lei federal nº 8.492/92.
Reconhecemos e o felicitamos pelos inúmeros avanços acadêmicos que nossa universidade conquistou sob vossa gestão. Mas também precisamos cultivar constantemente o clima de institucionalidade, tolerância, liberdade e pluralidade de ideias que também deve caracterizar um ambiente universitário pleno. Compreendemos que o processo democrático que o trouxe à nossa Reitoria foi forjado por uma ampla coligação formada por diversas orientações políticas, mas também entendemos que essa pluralidade perdeu seu espaço ao longo dos tempos.
Independentemente de orientações ideológicas e partidárias, a sociedade brasileira está cada vez mais atenta, e menos passiva, aos velhos vícios de nossa ainda jovem República. De forma suprapartidária, a universidade, como instituição, deve ser a linha de frente desses novos tempos, e não arrastada a reboque por essas mudanças.
O Universidade Livre pretende atuar sempre em parceria com nossa comunidade acadêmica, fomentando propostas que ajudem a superar os inúmeros desafios institucionais de nossos tempos. Dessa forma, ratificamos nossa posição de fomentar o pluralismo de pensamento, a liberdade, a diversidade da crítica e o constante zelo pelos melhores padrões de institucionalidade, tão necessários à formação de um ambiente acadêmico pleno e pujante.
Com os nossos cumprimentos,
Artur Zimerman (CECS)
Ivan Filipe Fernandes (CECS)
José Henrique Sperancini (CECS)
Iseli Nantes (CCNH)
Herculano Martinho (CCNH)
Vladimir Perchine (CMCC)
André Fonseca (CMCC)
Thomas Ritchie (CMCC)
Roberto Venegeroles (CMCC)

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