terça-feira, 6 de agosto de 2019

Nagasaki

Nova Portugalidade
10 hrs
Faz agora 74 anos que os japoneses de cultura portuguesa foram exterminados
Nagasaki era, desde o século XVI, o bastião do catolicismo japonês. Ali viveram durante dez gerações os nipónicos convertidos ao catolicismo pelos missionários do Real Padroado Português. Expostos durante décadas à influência da cultura portuguesa, assimilaram vocabulário, orações, práticas gastronómicas e nomes portugueses que doravante passaram a ser indissociáveis da igreja japonesa.
Quando, em meados do século XVII, o Japão se fechou e baniu o cristianismo, os católicos passaram à clandestinidade, fintaram as perseguições, iludiram vizinhos, fingindo terem regressado às práticas religiosas dos seus antepassados budistas e xintoístas. Em Urakami, nos arrabaldes de Nagasaki, situada no recôncavo de um vale, concentrava-se essa comunidade cripto-católica. O pacto de silêncio manteve-os unidos e solidários ao longo de quase 300 anos, até que em meados do século XIX, com a abertura japonesa ao mundo, lhes foi reconhecido o direito à liberdade religiosa. O desabrochar da comunidade foi eufórico; procissões, celebrações litúrgicas e intensa militância proselitista atraíram novos conversos, pelo que se decidiu pela construção de um grande templo, a catedral da Imaculada Conceição, então o maior edifício para o culto cristão na Ásia Oriental.
Às onze horas da manhã de 9 de Agosto de 1945, o Fat Man - a segunda bomba atómica destinada a siderar o Japão, obrigando-o à capitulação - foi largado e, dois minutos depois, explodia a 500 metros da catedral, precisamente no anel mais intenso de fogo e destruição provocado pela detonação. Os habitantes preparavam-se para mais um dia de trabalho, na escola primária as crianças estavam sentadas nas carteiras e abriam as pastas para retirar os lápis e cadernos, o bispo de Nagasaki oficiava a missa matinal. Em fracção de segundos, todas essas vidas foram devoradas pela maré de fogo.

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