terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Produção acadêmica

Mecanismos de incentivos, produtividade acadêmica e o “mercado das ideias


"... as universidades e governos deveriam adotar mecanismos de incentivos desenhados com o propósito de estimular a produtividade acadêmica. Em essência, tais mecanismos atribuem “pontos” as diversas atividades do pesquisador, de acordo com o valor que se atribua a cada uma delas. Supondo que os professores pautem suas escolhas apenas pelos incentivos monetários atrelados aos pontos, eles competiriam entre si pelos mesmos, aumentando desse modo sua produção, na direção desejada...

George Stigler, da Universidade de Chicago, satirizou a tentativa de desenhar mecanismos de incentivos já na década de sessenta. Em sua sátira, nos fala de um reitor de uma universidade latino-americana que pretendia estimular a produtividade de seus pesquisadores. Para tal, decretou que os professores poderiam desafiar em exames outros com um cargo superior, cuja banca seria composta de professores americanos. Caso ganhasse, o professor trocaria de posto e salário com o perdedor. Ocorreu então uma corrida à biblioteca e professores mais velhos anteciparam a aposentadoria. Porém, surgiu o entesouramento do conhecimento: os especialistas não discutiam com pessoas que soubessem menos que eles e ensinavam assuntos irrelevantes em seus cursos, com medo de perder o cargo. Diante dessa distorção, o reitor passou a conferir 5 pontos para o professor cujo aluno vencesse um desafio. Certo professor foi vencido por 7 alunos, mas manteve o cargo pelos 35 pontos conquistados… Os cursos de pós-graduação ficaram vazios, pois os candidatos foram estudar nos EUA, terra dos examinadores. De fato, brilhantes professores foram substituídos por alunos que fizeram cursos com examinadores. Além disso, a atividade de pesquisa cessou e todos se concentravam nos estudos para os exames. Diante disso, o reitor conferiu 2 pontos por artigo e 7 por livro produzido. Os professores passaram a preferir preparar um aluno bom por ano (5 pontos) a produzir um livro que demora 3 anos. Outro publicou como artigos os 19 capítulos do seu livro, enquanto outro publicou uma transcrição de conferências.
No relato de Stigler, cada regra desencadeava uma reação inesperada e indesejável, o que convidava a reformulação do conjunto de regras. O processo nunca resultava no aumento de produtividade propriamente dita, mas em desvios dos esforços para a busca dos indicadores objetivos de produtividade. Esse fenômeno, poderíamos perguntar, seria parte de um processo de calibragem ...
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